EQUATORIAL CONSTELLATIONS
DO EQUADOR
May 30th 1967. Colonel Odemegwu Ojukwu unilaterally declares the independence of the state of Biafra from the Nigeria. The Nigerian federal government ruled by Yakubu Gowon leads a military offensive over Biafra to recover the region. Hostilities open way for large-scale war and the first post-colonial conflict in African soil. Saint Tome, at the time a Portuguese colony, is close to Biafra by air. Its geographic position permitted the establishment of an airlift which saved of hundreds of thousands of children from starvation. Fifty Yeats later, a phantom in San Tome wonders amidst what remains from this event considered the first civilian aid mechanism in the 20th century.
THE FIRST SHOT
That lone rifle-shot anonymous in the dark striding chest-high through a nervous suburb at the break of our season of thunders will yet steep its fligt and lodge more firmly than the greater noises ahead in the forehead of memory.


Preparei este filme baseado no arquivo digital de São Tomé na Fundação Mário Soares em Lisboa, tendo como centro uma pasta contendo vistos de centenas de crianças evacuadas da República do Biafra para a ilha de São Tomé na altura da Guerra Civil Nigeriana, ou Guerra do Biafra, entre 1967 e 1970, o conflito resultante da ordenação política herdada do domínio colonial Britânico.
Nigeria, 30th of May 1967. The Republic of Biafra unilaterally declares independence. A few days later, the Federal Government of Nigeria declares war on the rebellious republic and drafts all its troops to squash the secession. A Nigerian internal affair, for the United Nations; the pains of unity the young Federal Government of Nigeria needs to deal with, according to the Organization of African Unity; “The war between blacks no one cares about” the title of Jet magazine article by Charles Sanders. The total blockade imposed by the Federal Government of Nigeria on Biafra was barring all information, food, supplies, medicine and correspondence between the secessionist state and the outside world. The International Committee of the Red Cross had decided to suspend aid to Biafra after one of their planes was shot down by the Federal Army. It was from July 1968 onwards that the island that saw my coming to the world became a modest, yet the only horizon of hope to the child victims of the war in Biafra. As the only access to Biafra was by air, and the Red Cross had stopped flying in from the island of Fernando Po (today Bioko), what became known as Joint Church Aid set up a warehouse on then-Portuguese equatorial island Sao Tome. Supplies arrived to this warehouse from all over the world, then flown into Biafra by night on refurbished Lockheed Constellation planes. Once the planes landed at Uli, Biafra’s road-turned-airstrip – at the time the busiest ‘airport’ in Africa - the supplies were unloaded, and the plane would fly back to Sao Tome bringing refugee children in the most critical condition. Disturbing photographs and films of extremely malnourished children, dying mothers and child soldiers inflamed world media; the public reacted with indignation before the reality of the civilian plight, under conditions unimaginable after the world war II experience. Some among the virtually two million civilian casualties of the Nigeria Civil War survived and would have not escaped death by famine shouldn’t have been the efforts of civilian associations and individuals to deal with a humanitarian disaster on steroids. This is the story of what remains in memory and space of the most important and forgotten and aid mechanism at the time, the Biafra-San Tome airlift.
Ficou conhecida por Ponte Aérea São Tomé-Biafra e foi montada para abastecer a auto-proclamada República de mantimentos nos voos de ida, e para evacuar civis refugiados nos voos de volta.
Os testemunhos de Gil Pinto de Sousa e de Artur Alves Pereira, dois dos pilotos envolvidos a título voluntário, revelaram-me o carácter arrojado e sem precedentes desta operação.
Chego a São Tomé em Maio de 2017 para encontrar a memória deste acontecimento no mesmo estado em que se encontram dois dos aviões usados neste mecanismo: os Lockeed Superconstellations estão estacionados num campo devoluto ao lado do Aeroporto de São Tomé, aqui tiveram alguns usos originais, ora um restaurante, ora uma discoteca…hoje estão abandonados no meio de alta vegetação e infiltrados por água das temporadas chuvosas. São Tomé, na altura sob o domínio colonial Português, teve de se adaptar à circunstância de modo a apoiar a acção conjunta das organizações internacionais dedicadas à manutenção e êxito da ponte aérea. Foram convocadas as poucas pessoas na ilha que tinham formação para dar apoio hospitalar, e muitos foram recrutados para os armazéns de onde havia grande tentação – e acção – de desviar bens destinados aos aviões para o Biafra devido à novidade de produtos internacionais e curiosidade sobre o movimento sem precedentes na ilha. Um deles foi Vovô Ferro, conhecido como o Comandante Ferro, pois foi aprendiz e amigo do afamado Comandante Reis, o principal director de operações de aviação para a Ponte Aérea Biafra-São Tomé. Vovô Ferro encarnou o nosso fantasma através deste filme, o espírito que deriva na procura de uma identidade devastada em guerra civil, o espírito que nunca encontrou corpo estável onde repousar a sua personalidade. Chegado ao Arquivo Histórico de São Tomé, tive a oportunidade de ver e tocar nas fichas das crianças refugiadas que tinha visto em versão digital em Lisboa. Pude também ver de perto o diagnóstico de cada uma ao dar entrada e ao sair… A ponte aérea terminou com a rendição incondicional do Biafra e a ilha despediu-se das vítimas depois de ter posto todos os seus esforços à disposição para dar um horizonte às crianças. A guerra deixou marca de morte e destruição, e os seus efeitos são feridas por sarar na turbulenta história recente do continente Africano. Os milhões de mortos e de crianças famintas sedimentam na memória colectiva como fantasmas desejosos de materialização a qualquer momento e sob qualquer pretexto. Aconteceu muito antes de eu nascer e num território ao qual não pertenço, porém foi no país onde nasci que se travou uma parte decisiva deste conflito. A grande maioria dos civis que sobreviveram à guerra e ao genocídio deve-o a esta Ponte Aérea, pois o bloqueio sofrido tornara-se em cerco total com excepção de uma estreita fita aérea nocturna entre o aeroporto de São Tomé e uma pista cavada no mato em Uli no Biafra que cada dia era tapada com vegetação mal o sol nascia para não chamar a atenção da Força Aérea Nigeriana que usava equipamento Soviético de ponta contra o arsenal re-aproveitado da Segunda Guerra Mundial usado pelo Exército do Biafra. Pela primeira vez, as televisões, jornais e rádios do Ocidente chocavam a audiência com imagens de crianças estropiadas, mortas ou famintas inaugurando assim a forma mediática de pressão política contemporânea. Nos bastidores, na Quinta de Santo António em São Tomé, os voluntários, os médicos, os enfermeiros desdobravam- se para garantir oportunidade a cada uma das crianças de se humanizarem novamente. A vida foi salva, mas arrancadas às suas famílias, casas e terras, muitas crianças cresceram exiladas, sem qualquer sentimento de pertença e identidade, carregando consigo as recordações de um passado sangrento esquecido entretanto pelo mundo que outrora as colocou no Jornal da Noite. Ao pensar nelas, sinto uma afinidade. Se bem que por motivos incomparáveis, também cresci longe do meu país e a aculturação não sara o desenraizamento. Com elas regresso e procuro pelos seus espíritos, pelo seu passado e pelas reminiscências que ficaram desse acontecimento. A guerra do Biafra é hoje tida como fátuo acontecimento de arquivo num continente distante, quando eu perguntava em São Tomé sobre a ponte aérea às varias pessoas com quem me cruzava, a resposta era sempre a pergunta em modo surpreendido “mas porque está interessado agora nisso?” Espero que este filme possa ser uma franca resposta. Silas Tiny